Friday, February 2, 2007

Jorge Sampaio


Jorge Sampaio, enviado especial do Secretário-Geral da ONU para a Luta Contra a Tuberculose, está preocupado com a situação e lembra que qualquer cidadão pode ser infectado.

Correio da Manhã – Como vê estes casos de tuberculose?

Jorge Sampaio – Fiquei naturalmente preocupado com essa notícia. Mas neste tipo de situações é necessário reagir sem alarmismos. O que importa é intervir com rapidez e eficácia, uma vez que se trata de uma doença contagiosa. Ora, segundo as informações de que disponho, foi o que aconteceu. Detectado o primeiro caso de um adulto infectado, logo sujeito a tratamento, foi feito um rastreio mais alargado. Prevenção e tratamento são duas palavras-chave para combater a tuberculose.

– A crise económica pode fomentar a doença?

– É conhecida a ligação entre as doenças como a tuberculose e a pobreza – a má nutrição, a falta de condições dos alojamentos (especialmente uma deficiente circulação do ar e ventilação), a sobrelotação dos espaços fechados são situações que favorecem a transmissão dos bacilos da tuberculose. Por conseguinte, há um círculo vicioso potencial entre a pobreza e a tuberculose que é necessário quebrar e prevenir. Importa que as autoridades de saúde pública se mantenham vigilantes. Agora é também importante não estigmatizar a doença, até porque a tuberculose pode afectar qualquer cidadão, independentemente da sua condição socioeconómica.

– O que falha contra a doença?

– Como as próprias autoridades de saúde pública portuguesas reconheceram na edição especial do Correio da Manhã dedicada à tuberculose, a história da luta contra a tuberculose em Portugal não tem sido bem sucedida. A meu ver, a consciência desta falha representa desde já um primeiro passo positivo. Importa agora apostar na aplicação porventura mais rigorosa e exigente do Plano Nacional de Luta contra a Tuberculose, que deverá conduzir a um melhoramento da situação. Mas não quero escamotear as dificuldades: a luta contra a tuberculose é um combate com várias frentes. Não só porque hoje em dia as várias formas de tuberculose multi-resistente tornam o seu tratamento cada vez mais problemático, incerto e dispendioso, mas também porque a tuberculose é alimentada por outras pandemias – sobretudo o HIV-sida, que continua em progressão e sem cura. Por último, porque, como já disse, o círculo vicioso da doença e da pobreza – especialmente visível no mapa da tuberculose – faz desta luta um combate sem tréguas. A luta contra a tuberculose em Portugal deve continuar entre as prioridades de saúde pública do nosso país.

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